sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Leituras de O Peregrino - As Instituições e o Vale da Sombra da Morte


A imagem de O Peregrino em que Cristão enfrentou a realidade do Vale da Sombra da Morte, o Vale tenebroso, pois a escuridão o dominava, de um lado existia um fosso profundo onde uns cegos guiavam outros cegos para a morte, do outro lado tinha um atoleiro muito perigoso. Ouvia muitas blasfêmias de demônios contra Deus e estava envolto por fortes sentimentos de medo. Até imaginou ter ouvido a voz de uma pessoa que estava a sua frente e gritava: Ainda quando ande na sombra da morte não temerei porque estas comigo, guardou estas palavras com alegria no coração. Na metade do Vale, viu o brilho do sol, e contemplou sangue e corpos de homens que eram peregrinos de tempos anteriores. Observou que no Vale existia uma caverna que foi habitada por dois gigantes, Papa e Pagão, que com seus poderes tinham matado muitos peregrinos. Leiamos na citação a seguir um pouco deste momento (BUNYAN, 2004, 105).

Cristão enfrentou o Vale da Sombra da Morte sem ser morto, porque Deus lhe preserva a existência e sua fé. Mas em tempos anteriores muitos peregrinos foram mortos em sua fé em Deus no encontro com Cristo Crucificado para seguir o Caminho da Liberdade e ser cidadão do Reino de Deus nos seus bens eternos. Essa fé tinha sido destruída pelo poder de dois gigantes institucionais o Pagão representando o Paganismo e Papa a Igreja Católica Romana, mas no pensamento de Bunyan ambos já perderam os seus poderes.

Nesta imagem a nossa leitura consiste na verdade das instituições cristãs serem Vale da Liberdade, desprezando a realidade diária de tornar-se Vale da Sombra da Morte que tem sido uma constante em nossa sociedade. Torna-se Vale da Sombra da Morte quando os seus líderes são tratados como “papas” (os únicos representantes de Deus) dominados pelo personalismo, o exibicionismo e narcisismo como também aparecem como astros e estrelas nos púlpitos, com isto promovem a opressão e morte em seus membros na sua fé na mensagem de liberdade de Cristo. “Papas” que utilizam as instituições somente para satisfação dos seus interesses, de serem personalidades únicas sob a exploração dos seus membros, que aprendem uma fé de obediência aos seus ditames.

Quando as instituições cristãs se tornam túmulos do Deus vivo, estão vivendo a realidade do Vale da Sombra da Morte e representa uma das tragédias do cristianismo em nossa sociedade globalizada.

As instituições cristãs podem ser instrumentos de opressão quando predomina em sua vida institucional a intolerância e censura sobre as mentes dos seus membros, com o propósito de enquadrá-los a sistemas de fé formulados por determinados líderes, que enfatizam tradições e práticas secundárias como verdades santas. Sendo este privilegiamento desenvolvido em desprezo as verdades fundamentais: de que vivemos numa Sociedade da Destruição, provocada pelo grande fardo do pecado, a liberdade no amor de Cristo Crucificado e a encarnação dos eternos do Reino de Deus em contraposição aos bens da nossa sociedade.

Portanto, nesses tempos globais temos que ouvir o sopro divino que nos chama a construirmos espaços como Vales da Liberdade a partir do paradigma da mensagem de Cristo Crucificado que compreende o seu chamado de encarnar os bens eternos do Reino de Deus. Em contraposição ao paradigma de serem vales da opressão e morte porque vivem sob o jugo dos seus “papas” e produzem membros semelhantes, privilegiando e se associando à realidade de destruição dominante em nossa sociedade, que torna obscurecida, adulterada e descartável a mensagem de Liberdade de Deus em Jesus Cristo.

Referências

BUNYAN, John. O peregrino – a viagem do cristão a cidade celestial. Trad. Alfredo H. da Silva. São Paulo: Martin Claret, 2004.

STOTT, John. Por que sou cristão. Trad. Jorge Camargo. Viçosa (MG): Ultimato, 2004.

Cleófas Júnior

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