terça-feira, 5 de outubro de 2010

Globalização e a Supremacia do Ter - na pena de Carlos Drummond de Andrade


EU, ETIQUETA (Fragmentos)

Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia,não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu,mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou coisa, coisamente.



A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

Globalização e a Privação das Subjetividades - na pena de Carlos Drummond de Andrade


EU, ETIQUETA (Fragmentos)


Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente0.
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espalhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?


A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

Globalização e a Homogenização da Vida - na pena de Carlos Drummond de Andrade


EU, ETIQUETA (Fragmentos)


Meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim - mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua alma humana,invencível condição.



A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

Globalização e a "Coisificação" da Vida - na pena de Carlos Drummond de Andrade


EU, ETIQUETA (Fragmentos)

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... Estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha tolha de banho e sabonete,


A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

A Palavra de Deus produz paz e liberta de todo medo - João 14.26-28


26 Mas o Advogado, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu Nome, esse vos ensinará todas as verdades e vos fará embrar tudo o que Eu vos disse.


27 Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar.


28 Vós ouvistes o que Eu disse: ‘vou, mas retorno para vós.’ Se me amásseis, ficaríeis alegres com o fato de que Eu vou para o Pai, pois o Pai é maior do que Eu.



No entanto, quando o cidadão se percebe assim, tendo Deus – em Sua misericórdia – permitido que ele caísse em si e, finalmente, olhasse para dentro, então o que acontece é que ele não se reconhece, e se assusta, se escandaliza, se choca, se culpa, se penitencia! Não sabe porque “depois de tanto tempo de evangelho” o que habita seu interior são as mesmas raivas, angústias e escravidões de outrora, mas agora travestidas de ‘santidade exterior‘; existem os mesmos bichos vociferando rancores e preconceitos, só que agora legitimados pela interpretação adaptada da Bíblia, que nos dá a entender que somos seres superiores, triunfalistas, uma raça cheia de méritos em ser santa, um povo que se “acha!” por ser designado de propriedade exclusiva de Deus, sem qualquer compreensão que, em havendo tal eleição, ela é fruto de pura Graça, é anterior a nós mesmos, sendo anterior a qualquer coisa que tenhamos feito ou deixado de fazer, é anterior, inclusive, ao nosso próprio nascimento. Aliás, essa coisa toda é desígnio de Deus desde antes da fundação do mundo, quando o Cordeiro foi imolado para redenção de todo ser criado.


Caio Fábio. O Caminho da Graça Para Todos. p. 7