terça-feira, 5 de outubro de 2010

Globalização e a Privação das Subjetividades - na pena de Carlos Drummond de Andrade


EU, ETIQUETA (Fragmentos)


Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente0.
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espalhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?


A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou? Deixe o seu comentário!