segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Caminho de Jesus e a busca por comunidade




Nesses tempos globais outra realidade em que nossa geração tanto busca encontrar consiste na construção de relacionamentos de amor, amizade, companheirismo, compreensão e assim a aspiração por comunidade. Nisso o John Stott (2004: p. 119-120)reproduz um pensamento da Madre Tereza de que as pessoas estão com fome de amor:

"As pessoas hoje estão famintas de amor, amor que compreenda, que é... a única resposta à solidão e à grande pobreza. É por isso que nós [ irmãos e irmãs da ordem a que pertencia] estamos aptos a ir para países como a Inglaterra, os Estados Unidos e a Austrália, onde não há fome de pão. Mas nesses países as pessoas estão sofrendo de terrível solidão, terrível desespero, terrível ódio, sentindo-se desprezadas, desamparadas, sem esperança. Elas esqueceram como sorrir, esqueceram a beleza do toque humano. Elas estão esquecendo o que é o amor humano..."

Portanto, no caminho de Jesus encontramos o amor gracioso de Deus que nos alcança de forma incondicional, experimentamos a casa do Pai em nós, assim aprendemos a cada dia a amor os outros e a viver em comunidade. Ou seja não buscamos perpetuar a nossa solidão e individualismo centrados em si mesmos, mas desejamos a cada dia crescer com o outro na construção do Reino de Deus através de um novo céu e nova terra. Porque no caminho de Jesus cresce em nós a consciência de que da mesma forma que Cristo realizou aqui na terra em sua existência terrena obras de amor, misericórdia, libertade, pacificação e consolo de muitos pequeninos nesse mundo, também somos vocacionados a realizar tais obras em nossa geração (João 14.10-12).

Temos que romper com nossas formas religiosas que produzem apenas mais solidão, amargura e dor em nosso tempo, por causa da nossa pretensão de aprisionar a tudo e todos, como trata John Stott (2004: p. 122):


"No entanto, infelizmente, há muitas comunidades cristãs que estão distantes do ideal divino, e outras que de maneira bonita se aproximam dele. Elas nos capacitam a afirmar que o propósito de Deus não é apenas salvar indivíduos isolados e, assim, perpetuar nossa solidão, mas construir uma nova sociedade, uma nova família, até mesmo uma nova raça humana, que viva uma nova vida e tenha um novo estilo de vida."

O Caminho de Jesus e a busca por significado



Necessitamos refletir sobre os referenciais globais que tem influenciado nossa geração consiste na realidade dura e cruel do processo cotidiano de desumanização e desvalorização da vida seja na face das nossas crianças, adolescentes, jovens, mulheres e idosos. Mais uma vez considero muito interessante as reflexões apresentadas por John Stott em seu livro Porque sou cristão da editora Ultimato (2004:p.113-114) sobre três questões que contribuiram para produção dessa realidade:

• O efeito da tecnologia, pode ser libertadora, é claro, pois liberta as pessoas do trabalho pesado industrial ou doméstico. Mas ela pode também ser terrivelmente desumanizadora, fazendo com que homens e mulheres já não sintam pessoas, mas coisas.
• O efeito do reducionismo científico, alguns cientistas têm argumentado que um ser humano não é nada mais do que um animal, ou nada senão uma máquina, programada para dar respostas automáticas a estímulos externos.
• O efeito do existencialismo, os existencialistas radicais pensam que Deus está morto, tudo o mais morreu com ele. Uma vez que não há Deus, não há valores ou ideais, propósitos ou significados.

O mais importante que necessitamos atentar quando enfrentamos esses tempos globais em seu processo de desvalorização da vida é que em nossa geração seguir o caminho de Jesus resulta em sentido, significado, valorização e dignidade o nosso viver humano porque a cada dia descobrimos que Deus o nosso Pai e Jesus o Filho em comunhão amorosa nos criou com a imagem e semelhança divina. Assim no caminho de Jesus não reduzimos a existência as circustãncias desse nosso mundo cruel em que nos enxergamos como explorados, nada, lixo e desistimos de viver, mas caminhamos encontrando sentido e amor incondicional de Deus em todas as coisas. Isto porque como afirma John Stott (2004: p. 118) no caminho de Jesus as pessoas têm importância:

"O ensino de Cristo sobre a dignidade e o valor do ser humano é muito importante hoje, não somente para nossa própria auto-imagem e auto-respeito, mas também para o bem-estar da sociedade. Quando as pessoas são desvalorizadas, tudo na sociedade tende a se estragar. Não há nenhuma liberdade,nenhuma dignidade, nenhuma alegria. A vida humana parece não valer a pena ser vivida, porque já não é humana. Mas quando os seres humanos são valorizados como pessoas, pelo seu valor intrínseco, tudo muda. Por quê? Porque as pessoas têm importância. Porque cada homem, mulher e criança tem valor e significado como ser humano feito à imagem e semelhança de Deus."

O Caminho de Jesus e a busca por transcendência



Em nossos tempos globais existe uma grande busca por transcendência e um dos movimentos que tem impactado grandemente a nossa geração é o chamado Movimento da Nova Era, como trata muito bem o pensador John Stott em seu livro Porque sou cristão, publicado pela editora Ultimato em 2004 (p.108-109, 111):

"Na atualidade, porém, particularmente por causa do entusiasmo pela meditação transcendental, todo mundo tem alguma idéia do que seja transcendência. A busca por transcendência é a busca por uma Realidade que esteja acima da ordem material. Ela surge da convicção de que essa Realidade não pode ser confinada a um teste laboratorial, espalhada sobre uma lâmina e sujeita a um exame microscópico. Há algo mais, algo além, algo tremendo que nenhum instrumento científico é capaz de apreender ou medir.

A mais extraordinária de todas as tendências religiosas recentes talvez seja o surgimento do movimento Nova Era no Ocidente. Trata-se da mistura bizarra de diversas crenças, incluindo religião e ciência, física e metafísica, panteísmo antigo e otimismo evolucionista, astrologia, espiritismo, reencarnação, ecologia e medicina alternativa."

Portanto, é urgente desenvolvermos uma grande sensibilidade e compreensão para com o nosso mundo globalizado em sua ânsia por transcendência, para assim experimentarmos a cada dia em nosso ser que no caminho de Jesus encontramos a satisfação para tal aspiração. Ou seja, quando escolhemos a cada dia seguir a Jesus experimentamos e contemplamos diariamente essa Realidade, com isso não nos maltratamos com visões pequenas, mesquinhas e reducionistas da vida como, por exemplo, uma religião conhecida por todos nós chamada de "cristianismo".

Não necessitamos criar, formular, abrir ou arquitetar outros caminhos centralizados tão somente em nossos desejos, a simplicidade estar em cada um em sua individualidade ouvir a voz de Deus de que em Jesus Cristo nós encontramos o caminho para amadurecermos na verdade e na vida (João 14.6). Penso que enquanto vivermos em nossos caminhos religiosos de justiça própria e boas obras das nossas leis cristãs nos afastamos da transcendência em Jesus Cristo e mergulhamos a cada dia numa grande tragédia como trata John Stott (2004: p.113):


"Para mim é uma grande tragédia que muitos homens e mulheres modernos, na busca por transcendência, se voltem para as drogas, para o sexo, para a ioga, para as seitas e para a Nova Era,em vez de voltarem-se para Cristo e para a sua igreja,onde se deveria experimentar cultos de adoração verdadeiramente transcendentes e desfrutar de um encontro íntimo com o Deus vivo."

O Nosso Mundo Globalizado, a Coisificação da Vida e o Caminho de Jesus




No poema do poeta Carlos Drummond de Andrade intitulado EU, ETIQUETA podemos pensar um pouco mais sobre os desafios do mundo globalizado e a realidade constante da coisificação das nossas vidas. Em que somos consturados pelo capitalismo em seus variados produtos para satisfação dos nossos desejos e assim reduzimos a nossa identidade a meros consumidores. Eis alguns trechos do poema:

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... Estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha tolha de banho e sabonete,

(...) Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim - mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua alma humana,invencível condição.

(...) Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espalhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia,não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu,mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou coisa, coisamente.

A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

Mas no caminho de Jesus Cristo somos chamados a viver a nossa humanidade com um coração sem preocupações porque cremos em Deus revelado na face de Cristo no sentido de confiamos todo nosso ser ao único Absoluto e Soberano em amor incondicional. E nesse caminho em que aprendemos a confiar em Deus como nosso Pai e assim encontramos morada Nele em e por nós (João 14.1-4).