
Primeiramente a nossa leitura deve perpassar a questão de O Peregrino e John Bunyan no contexto do "puritanismo inglês" do século XVII. Pois Bunyan após a sua conversão e ligação a igreja Protestante em 1655, começou a desenvolver os seus dons de pregador com mensagens polêmicas. Também com um caráter subversivo em relação às práticas litúrgicas expressas nos Trinta e Nove Artigos doutrinários da Igreja Oficial da Inglaterra, Anglicana (LUNDIN, 2004: p.11).
"2. Minha descendência então foi, como é bem conhecida de muitos, de uma baixa e inconsiderável geração; a casa de meu pai era a mais depreciada de todas as famílias da região. Portanto, eu não tenho aqui, ao contrário de outros, motivos para gloriar-me de sangue nobre, ou de ser nascido de uma classe alta de acordo com o sangue..."
A participação de Bunyan, em primeira instância dos movimentos heréticos, refere-se a essa questão de sua condição social em ser pertencente às camadas subalternas. Esta condição adquire fortes expressões em O PEREGRINO, como na imagem de: o Sábio-Segundo-Mundo, o Formalista e Hipocrisia são colocados como pertencentes a nobreza, e não participam do Reino de Deus. Enquanto que os peregrinos são representados como pertencentes às camadas subalternas como: quando Cristão e Fiel se encontraram durante a peregrinação na Vila da Vaidade, onde Fiel foi levado ante o Juiz Ódio-ao-Bem, por haver caluniado vários membros da Vila que pertenciam a aristocracia (HILL, 1987: p.386-387).
"10. Durante estes tempos (juventude), os pensamentos sobre religião me entristeciam; eu mesmo nem podia tolerar estes momentos, nem podia agüentar que outros os tivessem; de forma que, quando via alguém lendo aqueles livros sobre piedade Cristã, eu pensava que tal livro seria como uma prisão para mim (...) Eu estava agora desprovido de toda boa consideração, céu e inferno se achavam ambos fora de alcance de minha vida e mente; e quanto ao ser salvo ou condenado, não me importava nem um pouco."
Em terceiro lugar, O Peregrino representa uma resposta existencial de Bunyan as crises da Inglaterra do século XVII. Em que as pessoas das camadas subalternas através da meditação da Bíblia encontravam a resposta para as crises sociais, econômicas e espirituais que enfrentaram de forma intensa.
Em quarto lugar, em O Peregrino Bunyan pensou a fé como uma realidade de experimentação das verdades eternas da Escritura no coração. Em suas variadas imagens detectamos que Bunyan muito se aproxima dos movimentos radicais, em seu pensamento de que a fé estava na vivência prática das verdades experimentadas pela ação do Espírito Santo. Como na imagem do encontro de Cristão e Fiel com um mestre de religião Loquaz. Este tinha uma presunção muito grande em seu discurso sobre as questões espirituais, mas era apenas palavras exteriores que não se harmonizava com suas atitudes no lar, bairro e cidade. A religião de Loquaz é apresentada como uma realidade sem vida e que o âmago da religião consiste no contrário.
Referências
BUNYAN, John. O peregrino – a viagem do cristão a cidade celestial. Trad. Alfredo H. da Silva. São Paulo: Martin Claret, 2004.
_____________. Graça em Abundância para o principal dos pecadores. Trad. Felipe de Araújo Neto. Cuiabá (MT), março de 2003. Disponível em: www.monergismo.com.br/livros/bunyan. Acesso em: 07 de junho de 2005.
[1] Perfil biográfico de John Bunyan. In: O peregrino – a viagem do cristão a cidade celestial. P.431.
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: idéias radicais durante a revolução inglesa de 1640. Trad. Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
LOPES, Augustus Nicodemus. Puritanismo. O Presbiteriano Conservador. Setembro-Outubro de 1995.
LUNDIN, Roger. Introdução. In: O peregrino – a viagem do cristão a cidade celestial. Trad. Alfredo H. da Silva. São Paulo: Martin Claret, 2004.
Cleófas Júnior
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