sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Leituras de O Peregrino - Imagens da Cidade da Destruição



Uma das imagens interessantes de O Peregrino de John Bunyan consiste em "Cristão" preocupado com a sua existência, porque possui em seus ombros um pesado e atormentador fardo, que lhe incomodava diariamente. Ele descobre através da leitura de um livro que a cidade em que morava sofreria uma intensa catástrofe de destruição com o fogo do céu, denominada "Cidade da Destruição". "Cristão" estava dominado pelo medo, expressando isto com o choro, tremor e gemido por querer a libertação. Como observamos no fragmento abaixo (BUNYAN, 2004: p.23):

Cristão está envolto de perturbação em sua mente e coração, porque o fardo que carregava lhe consumia a cada dia de forma intensa e também a cidade em que morava sofreria destruição. É importante destacarmos que este pesado fardo da sua existência, tem o significado das suas misérias pecaminosas que lhe dominava, conforme observamos nas referências bíblicas que Bunyan apresenta neste momento. Uma das referências que nos conduz a isto é a de Salmos 38.4: "Pois já elevam acima da minha cabeça as minhas iniqüidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças".

"Cristão" expressa o seu tormento e a realidade da cidade aos membros da sua família que lhe respondeu com desprezo, considerando-o com problemas mentais. Mas ele encontra com um personagem chamado "Evangelista", que lhe mostra em meio ao campo onde estava a procura de consolo, uma porta estreita que brilhava uma luz. Assim deixou a sua cidade e seguiu com o propósito de encontrar a libertação de seu fardo e da "Cidade da Destruição" e viver na "Cidade Celestial" (2004: p. 23-25, 28).

A leitura que lhe convidamos a pensar consiste em reconhecermos-nos como portadores de um grande fardo, a realidade do pecado, que nos conduz a construir nossas sociedades na destruição, aprisionamento e infelicidade. Esse fardo reside em nossa natureza humana a partir da sua fonte (a mente e o coração) e atinge expressões externas. Ele representa a presunção de que podemos viver sem Deus. Queremos ser como Ele não no sentido de possuirmos a própria divindade, mas sim a cobiça de ser independente de Deus, das outras pessoas e da natureza. A miséria do pecado da nossa natureza representa o constante pensamento de vivermos em total independência de Deus e do nosso próximo, sendo um relacionamento de contraposição ao amor (BRUNNER, 2004: p.51).

Ser morador da "Sociedade da Destruição", portador do pesado fardo do pecado, representa também como bem entende SCHAFFER (2004:50) desde Adão e Eva, uma realidade de separação de Deus; em conjunto com uma separação de si mesmo, resultando em dificuldades psicológicas; também uma separação para com as outras pessoas, provocando problemas em nossa sociedade; e também separação das belezas natureza, resultando em dificuldades ecológicas.

Vivemos em uma "separação global" em todas as nossas criações culturais (instituições religiosas, educacionais, políticas, familiares), que a cada momento nos tem conduzido a destruição. Os nossos relacionamentos são construídos a partir do ódio, independência e rebelião ao amor de Deus, em sua soberania. Nisto construímos a nossa sociedade com base em nossa vontade egoísta de desejar viver com Deus e os nossos semelhantes, mas a desejamos por causa de nós mesmos, com o propósito de usá-los (BRUNNER, 2000: p.20).

Portanto, considero necessário pensarmos este lado obscuro da nossa existência e da nossa sociedade que vive na destruição, por causa do fardo que consiste na realidade do pecado, como parte integrante da natureza humana. Realidade que representa a cobiça de ser independente de Deus na busca de usá-lo conforme os nossos interesses, rejeitando a Sua Soberania revelada em relacionamento de amor marcado pela dependência e companheirismo como projeto original Divino. Manifesta em nosso relacionamento com o próximo, pois não olhamos para as suas necessidades físicas, materiais e espirituais; e na destruição da natureza com todos os seus bens naturais, quando a usamos pensando apenas na satisfação dos nossos desejos de consumo.

Referências

BUNYAN, John. O peregrino – a viagem do cristão a cidade celestial. Trad. Alfredo H. da Silva. São Paulo: Martin Claret, 2004.

BRUNNER, Emil. Teologia da crise. Trad. Paulo Arantes. São Paulo: Novo Século, 2000.

____________. Veneno na fonte. Revista Ultimato. Viçosa (MG), 287. ed., Março-Abril de 2004.

SCHAFFER, Francis. Separação global. Revista Ultimato. Viçosa (MG), 287. ed, Março-Abril de 2004.

Cleófas Júnior

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