sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nossa esperança não é fuga das contradições da vida, mas comunhão amorosa e libertadora com Deus no presente - Evangelho e Poesia



15 Afirmamos a todos vós, pela Palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos quando se der o retorno do Senhor, certamente não precederemos os que dormem nele.


16 Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, eos mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.


17 Logo em seguida, nós, os que estivermos vivos sobre a Terra, seremos arrebatados como eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E, assim, estaremos com Cristo para sempre!


18 Consolai-vos, portanto, uns aos outros com estas palavras.

I Tessalonicenses 4.15-18



NASCER DE NOVO
Carlos Drummond de Andrade


Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,o nervo exposto dos problemas.



Sondamos,inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta,deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?



Eis um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este o seu nome.
Amor, a descoberta
de sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.



A explicação rompe as nuvens,
das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o Outro
que em mim procura seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.
A minha festa,
o meu nascer poreja a cada instante
em cada gesto meu que se reduz
a ser retrato,
espelho,
semelhança
de gesto alheio aberto em rosa.

A Palavra Mágica (Poesia), 1997.

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